Caríssimos irmãos sacerdotes,
Tenho Sede!
Todo ano, a Igreja promove a Jornada Mundial de Oração pela
Santificação dos Sacerdotes, por ocasião da festa do Sagrado Coração de Jesus
que, neste ano, será no dia 27 de junho. Neste dia, ela convida todo o povo de
Deus de nossas comunidades eclesiais, bem como as pessoas de boa vontade, para
rezarem pelos seus sacerdotes para que, fiéis aos compromissos assumidos no dia
da ordenação presbiteral, tenhamos uma vida íntegra e santa, de íntima e
profunda comunhão com Jesus. Pois somente assim poderemos amar verdadeiramente
o rebanho do Senhor que nos foi confiado.
A santidade, além de ser um projeto pessoal de vida, deve
ser também um projeto pastoral. São João Paulo II, no ano 2000, assim se
expressou: “em primeiro lugar, não hesito em dizer que o horizonte para onde
deve tender todo o caminho pastoral é a santidade” (NMI 30). E o apóstolo
Paulo: “A vontade de Deus é que sejais santos” (1 Ts 4,3). Tudo na vida e na
missão de um sacerdote deve ter a marca da santidade. Sem santidade, estamos
sem horizonte, não somos nada, não valemos nada e não fazemos nada de bom.
No Cenáculo, durante a Última Ceia, ao instituir a
Eucaristia, o mandamento do amor fraterno e o sacerdócio ministerial, Jesus, o
Santo e a fonte de toda santidade, revelou aos seus discípulos um dos seus
desejos mais profundos: “Permanecei em mim, e eu permanecerei em vós. Como o
ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanece na videira, assim também
vós não podereis dar fruto se não permanecerdes em mim. Eu sou a videira, e
vós, os ramos” (cf. Jo 15,4-5). Permanecer em Jesus é a alegria verdadeira de
nossa vida. Sem Ele, tudo em nossa vida emudece e perde sentido. Pois, foi Ele
mesmo quem disse: “Sem mim, nada podeis fazer” (Jo 15,5). Decorrem desta íntima
união com Jesus Cristo a conversão pessoal e pastoral, a solicitude pastoral
pelos pobres e sofredores e o ardor missionário. Em outras palavras, a
santidade.
Hoje, mais do que em tempos passados, o sacerdote deve ser o
homem de Deus. Aquele que não se mantiver firme na fé, alegre na esperança,
perseverante na oração e firme nas tribulações (cf. Rm 12,12), terá vida breve
e estéril. Na realidade atual, perdemos muito daqueles papéis sociais de
destaque que, em tempo de cristandade, os nossos antepassados tinham. Além do
mais, com o advento dos potentes meios de comunicação, as nossas fragilidades e
feridas aparecem com maior clareza, exigindo de nós mais coerência de vida e
testemunho de santidade. Precisamos sempre ser pastores identificados com Jesus
e com sua Igreja, pobre e para os pobres. Precisamos ser sacerdotes
acolhedores, solidários, fraternos com os irmãos, encantados e apaixonados pela
missão. Enfim, precisamos de sacerdotes santos. Sem a lógica da santidade, o
ministério sacerdotal vale muito pouco e não passa de uma simples função
social.
Neste sentido, é mister recordar o que o papa Bento XVI
disse certa vez: "existem algumas condições para que haja uma crescente
harmonia com Cristo na vida do sacerdote: o desejo de colaborar com Jesus para
propagar o Reino de Deus, a gratuidade no serviço pastoral e a atitude de
servir". O encontro com Jesus deixa o sacerdote fascinado, encantado e
apaixonado por sua pessoa, suas palavras e seus gestos. É como ser atingido
pela irradiação de bondade e de amor que emanam d’Ele, a ponto de querer ficar
com Ele como os dois discípulos de Emaús. Cada sacerdote deveria diariamente
pedir a Jesus: “Fica conosco, pois já é tarde e à noite vem chegando” (Lc
24,29). Quem se encanta por Jesus, entra em sintonia e em amizade íntima com
Ele, e tudo passa a ser feito como agrada a Deus. Ser sacerdote não é mérito
nosso. É um dom a ser vivido na companhia de Jesus com gratidão e generosidade.
E acrescenta o papa Bento XVI: "o convite do Senhor
para o ministério ordenado não é fruto de mérito especial, mas é um dom a ser
acolhido a que se corresponde dedicando-se não apenas a um projeto individual,
mas ao de Deus, totalmente generoso e desinteressado. Nunca nos devemos
esquecer, como sacerdotes, que a única subida legítima rumo ao ministério do
pastor não é aquela do sucesso, mas a da cruz”.
Cai bem aqui o que disse o papa Francisco: “Conscientes de
terem sido escolhidos entre os homens e constituídos em seu favor para esperar
nas coisas de Deus, exercitem com alegria e com caridade sincera a obra
sacerdotal de Cristo, unicamente com a intenção de agradar a Deus e não a si
mesmos. Sejam pastores, não funcionários. Sejam mediadores, não
intermediários”.
O coração do sacerdote é um coração sempre aberto para amar,
acolher, celebrar e agradecer. Permitam-me, amados de Deus, concluir esta
mensagem reportando, mais uma vez, ao que disse recentemente o papa Francisco
sobre a necessidade de amar e santificar a nossa vocação sacerdotal. Diz ele:
“Os sacerdotes, mais do que estudiosos, são pastores. Não podem nunca se
esquecer de Cristo, seu primeiro amor, e devem permanecer sempre do seu lado. Como
está hoje o meu primeiro amor? Estou enamorado como no primeiro dia? Estou
feliz contigo ou te ignoro? São perguntas que temos que fazer com frequência
diante de Jesus. Porque Ele pergunta isso todos os dias, como perguntou a
Pedro: Simão, filho de João, tu me amas? Continuo enamorado de Jesus como no
primeiro dia ou o trabalho e as preocupações me fazem olhar para outras coisas
e esquecer um pouco o amor”?
Caríssimos, tenhamos sempre diante dos nossos olhos o
exemplo e Jesus, o Bom Pastor, que não veio para ser servido, mas para servir e
para procurar a ovelha, a moeda e filho perdidos e salvá-los (cf. Lc 15,4ss).
Prometo, no dia do Sagrado Coração de Jesus, rezar de modo especial por todos
vocês, sacerdotes do Senhor, a fim de que a vida e o ministério de vocês sejam
vividos na alegria do Evangelho que nos liberta do pecado, da tristeza, do
vazio interior e do isolamento. Peço também que todos os cristãos católicos
façam momentos de oração, de adoração e súplica, pessoalmente ou reunidos em
comunidade, implorando a Deus pela santificação dos nossos sacerdotes, tesouro
precioso saído do Coração de Jesus. Que Maria, mãe dos sacerdotes, nos ajude a
ter um coração manso e humilde como o Coração do seu Filho.
E todos, em uníssono, num só coração e numa só alma,
possamos dizer: Sagrado Coração de Jesus, nós temos confiança em vós! Amém!
Dom Pedro Brito
Guimarães
Arcebispo de Palmas
Presidente da Comissão para os
Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada
Fonte: CNBB
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