Saber ser feliz... - Dom Nelson Westrupp
Após a recente visita do Papa Francisco ao Brasil, por
ocasião da Jornada Mundial da Juventude, ao analisar seus pronunciamentos e
debruçar-me sobre suas simpáticas, profundas e envolventes mensagens, tocando
fundo o coração da gente, concluí que sempre é possível fazer algo mais. Trazemos
e alimentamos o desejo de progredir, de ser cada vez mais nós mesmos e, ao
mesmo tempo, ser uma esperança ativa daquilo que os outros podem vir a ser com
a ajuda de nosso apoio fraterno.
Jamais devemos estar satisfeitos com o que já alcançamos,
com o bem que já realizamos; pelo contrário, é preciso libertar-se da tirania
do “sempre foi assim”. Seria acariciar vícios e hábitos antigos. O que sempre
fizemos “desse jeito”, a partir de hoje, podemos começar a fazer diferente e
melhor. Seria trágico contaminar-se pelo vírus da síndrome da ação adiada.
Adiar uma ação nova é colocar-se na contramão do crescimento, do
amadurecimento, da perfeição. Fazer melhor o que habitualmente fazemos é “fazer
novas todas as coisas” (cf. Ap 21, 5).
Portanto, não podemos compactuar com a mediocridade e o
comodismo. Não podemos concordar com milhares de pessoas em busca de uma
felicidade que, ao invés de causar alegria e paz interior, aumenta a
insegurança, a insatisfação e a perda do sentido da vida. Eis a razão da luta
contra a corrente avassaladora do mundo incapaz de preencher o vazio do coração
humano. Há que se ousar a romper os padrões estabelecidos e avançar para metas
mais elevadas, capazes de realizar os sonhos da verdadeira felicidade proposta
por Deus.
Se a felicidade que o mundo oferece não realiza plenamente a
pessoa humana, por que não buscá-la onde ela mora? Na verdade, quem busca
realizar-se plenamente, precisa ir além de si mesmo, precisa identificar-se com
a causa de Cristo, única via para se conseguir aquele algo mais do que já se é
ou ainda não. Com efeito, “a pessoa plasmada pelo amor de Deus sabe o fim para
o qual foi criada e vive uma relação ordenada com as coisas, livre para
escolher direcionar sua vida e todo o seu afeto e criatividade a esse fim. Ela
não somente escolhe aquilo que conduz para lá; escolhe e deseja somente o que
mais a conduz a sonhar com Jesus pela causa do Reino e a trabalhar com ele para
fazer o seu sonho concretizar-se na história” (Itaici – Revista de
Espiritualidade Inaciana, n. 92, julho/2013, Editorial, pág. 3).
Se há algo que todos perseguem com tenacidade é ser feliz. O
que é a felicidade? É algo que ainda não possuímos em plenitude. Sabemos ser
feliz?
Não são os “ídolos passageiros” que fazem o coração humano
feliz, mas o bem que perdura para além do espaço e do tempo. Apressa-se o mundo
a fazer-nos propostas de felicidade, como ofereceu a Cristo nas tentações do
deserto (cf. Lc 6, 20-26). Oculta-se nesta oferta a louca pretensão de
felicidade, que deixa o coração humano vazio e o escraviza ao domínio do
puramente terreno. O mundo com seus critérios de valores não entende a
linguagem divina da felicidade que não termina. Programa tão paradoxal só
entendem os que estão dispostos a seguir o caminho oposto, da felicidade nova.
Em vez de bens que o tempo leva, preferem tesouros que nem ladrões cobiçam nem
a traça corrói (cf. Mt 6, 19-20).Deus quer comunicar sua felicidade a nós, a
fim de que possamos transmitir aos outros a experiência que fazemos da
felicidade de Deus em nossa vida. Sejamos mensageiros da Mensagem mais feliz do
Evangelho.
Texto: Dom Nelson Westrupp Bispo de Santo André (SP)
Fonte: CNBB
cnbb.org.br/site/articulistas/dom-nelson-westrupp/12520-saber-ser-feliz
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