A curiosidade é própria do ser humano, principalmente ao querer ver o desconhecido. Paulo aguçou o interesse dos pagãos, falando do Deus desconhecido no areópago de Atenas. Ele aproveitou-se para anunciar Jesus morto e ressuscitado. Alguns creram e o seguiram.
Jesus ressuscitado falou ao descrente Tomé que olhasse e colocasse o dedo nas cicatrizes deixadas pelas marcas dos pregos em suas mãos e da lança em seu peito. Mais do que colocar o dedo foi o desafio da presença e das palavras de Deus a ele dirigidas que o estimularam na profissão de fé (Cf. Atos 4,32-35). Esta vem para nós, através da graça de Deus, com o anúncio e a certeza das testemunhas fidedignas que nos apresentam o fato da ressurreição. Atrás ou dentro daquele que mostrava a natureza humana aos discípulos estava o próprio Filho de Deus. Como é importante o contato ou a experiência da presença de Jesus em nós para a solidificação de nossa fé!
Neste “ano da fé”, indicada pela Papa Bento XVI, temos especial motivação para adentrarmos melhor na consistência de nossa fé. Muitos são motivados a seguir alguma religião para obtenção de algum favor, graça ou milagre. Estes, de fato, estão presentes em nossa vida por bondade divina. Mas não bastam. Na época da presença histórica de Jesus no meio do antigo povo judeu, multidões o seguiam para obtenção de curas, solução de problemas e outros interesses materiais e sensíveis. Jesus sabia disso e desafiou a fé do povo. Depois que Ele prometeu dar sua carne e seu sangue em alimento para alcançarem a vida eterna, muitos não mais o seguiram. Jesus perguntou a um pequeno grupo, o dos apóstolos, se eles também queriam ir-se embora. Pedro respondeu que não, pois, somente Jesus é capaz de dar a vida eterna (Cf. João 6,52 ss). De fato, seguir a Jesus somente por interesse ou busca de curas ou solução de problemas materiais é pouco. Há quem tem saúde, muito dinheiro e outros bens materiais, bem como bem-estar ou prazeres à vontade. Mas se não seguirem o Mestre na prática do bem, da obediência a Deus, da ética, da justiça, da boa política, da misericórdia, da solidariedade e da caridade não se encaminham à vida presente de qualidade humana e moral, bem como à vida de felicidade eterna.
A curiosidade ou o interesse por conhecer e assumir melhor a fé deveria ser constante em nossa vida. Não basta dizer-se religioso ou cristão. É preciso realmente colocar em prática os valores da fé. Na orientação do Papa sobre a fé ele nos lembra os dizeres de S. Tiago: “A fé sem as obras coerentes com a mesma é morta. Não é suficiente a informação ou mesmo a formação nos valores religiosos. É preciso haver contínua experiência de vida e seguimento a Jesus Cristo, reconhecendo em suas cicatrizes as marcas de seu amor.
Neste ano de eleições municipais somos conclamados a praticar nossa fé com a conseqüente e grande caridade, com o voto dado a quem tem bom caráter, seja ético e capaz de prestar um bom serviço à sociedade, tanto para prefeito quanto para vereador. A curiosidade de sabermos bem sobre a vida dos candidatos nos ajuda imensamente para o bom discernimento. Podemos ver neles quem tem dom de Deus para o serviço ao bem comum.
Texto: Dom José Alberto Moura
Arcebispo de Montes Claros (MG)
Fonte: CNBB
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